sexta-feira, 27 de abril de 2012

Caprichos do rio Madeira: o caso Calama

Capricho do rio Madeira: o caso Calama
               Prof. José Maria Leite Botelho

O rio Madeira é um rio ainda em formação. Está em constante formação e dessa forma, seu talvegue tem constantemente mudado seu curso e no seu percurso, destroi e reconstrói suas barrancas. Os ribeirinhos já sabem disso há séculos, por isso não brigam com o rio, apenas respeitam sua força. Assim nunca constroem suas casas muito próximas das margens. Vivem assim em perfeita harmonia.
 O que vou relatar é fruto da vivência e da observação (não como pesquisador e sim como um amazonense que viveu parte de sua vida subindo e descendo o Madeira), que tenho feito durante décadas. Para efeito desse relato vou fazer um recorte a partir da localidade de Conceição do Galera até o povoado de Tambaqui, em frente a antiga ilha do Pasto Grande. Nesse trecho o caprichoso rio Madeira derrubou ilhas e barrancos, aterrou praias fazendo surgir pitoresca vegetação; abriu e fechou paranás; destruiu lagos e fez aparecer outros.
            A jusante do povoado de Conceição do Galera o rio corre retilineo até encontrar a ilha de Assunção. Esta já teve parte de suas barrancas derrubadas e o solo depositado no paraná fechando-lhe ou assoreando-lhe a saida. O desvio feito desde a parte da ponta (parte da subida do rio) da ilha fez crescer uma nova ilha na mesma de Assunção. Lembro que no dia 07 de dezembro de 1978, desembarquei a 60 metros da casa do meu sogro. Dez anos passados os moradores que vivam na mesma área foram obrigados a transferir suas moradias para a terra que cresceu na frente das casas. Do antigo local, na ilha de Assunção,  onde moraram, entre outras, as famílias de Roberto Ferreira de Paula, Maria Gomes, só restam as lembranças. A vegetação que cresceu no local esconde qualquer vestígio das moradias.   
            A força das águas na época das cheias avançou sobre a sede do seringal Assunção (na margem esquerda), destruindo-o. Como o canal havia mudado de lugar o material em suspensão foi se depositando sobre a praia de São Vicente, lado direito do rio, na “ponta” de baixo, da ilha. Como a terra nessa área cresceu o rio transferiu seu canal para o lado esquerdo. Aí derrubou barracas e árvores e os moradores do povado do Caraparu foram obrigados a migrar. Uns foram para Calama, outros para Porto Velho.
            As terras carreadas de parte da ilha de Assunção e adjacencias se depositaram e fizeram crescer a ilhinha, que estava se formando em frente Calama. Atualmente, não se percebe mais essa ilha.
            A água avança então sobre as terras da foz do Ji Paraná. No ano de 1982, mais ou menos, as águas do Madeira faz desaparecer a praia do “folharal.” Essa praia ficava localizada na margem esquerda do rio Madeira logo abaixo da foz do Ji Paraná e emendava-se com as terras do lago Curumim. O nome “folharal” era devido ao seu aspecto, formado  em camadas: uma camada de areia e uma camada de folhas, resultado do transporte das folhas e dos sedimentos do rio Ji Paraná). Quando a praia do “folharal,” foi retirada pela força das águas barretas do Madeira, a mesma força avançou sobre uma ilha que ficava acima de Vila Calama, mais ou menos do São Francisco para cima, destruindo-a em uma só noite. Retirada a ilha, o rio está avançando sobre a vila Calama. O resultado desse avanço pode ser observado comparando-se as fotos seguintes.
               

                                                        Fonte: José Maria Leite Botelho
Nessa primeira foto observa-se a casa da esquina, a casa Paroquial (ainda em bom aspecto), a Igreja de São João Batista. Essas construções tem a frente vasto terreno. A foto foi tirada no mês de nobrembro do ano 1990 e naquele ano a seca foi prolongada, por isso a grama apresenta aspecto avermelhado.
                                                      

Fonte: José Maria Leite Botelho
Na segunda foto observam-se as mesmas construções mas, a casa da esquina foi modificada e a casa Paroquial e a Igreja de São João Batista apresentas aspectos de total abandono. Essas construções não tem mais aquele vasto terreno. A foto foi tirada no mês de abril do ano 2011 a grama apresenta-se muito verde.

Em visita a Vila Calama em abril deste ano de 2012 observou-se que a água avançou e derrubou a calça da casa.

Prof. José  Maria Leite Botelho

Nenhum comentário:

Postar um comentário