quinta-feira, 4 de abril de 2013

S.O.S. CALAMA




 Um representante do movimento (camisa verde) entrega documento (ao representante do
governo de Rondônia), reivindicado ação governamental.                     
 Foto do autor:

Hoje, dia 04 de abril do ano de 2013, marca para os habitantes de Vila Calama, nova etapa na forma de reivindicar. Cansados de tantas promessas políticas, um grupo de moradores, veio a Porto Velho realizar uma passeata em protesto pelo descaso do poder público em relação a medidas de contenção do avanço das águas do Madeira sobre a rua frontal da Vila.
O avanço das águas do Madeira sobre Calama já foi tratado neste mesmo blog. Entretanto, com o agravamento do problema é necessário medidas urgentes e concretas. Não se admite mais apenas visitas e mais visitas de técnicos da prefeitura de Porto Velho e do governo do estado de Rondônia sem que nada seja feito, além da tomada de fotografias. Como disse um manifestante o “barranco” está caindo pelo peso das fotografias, feitas por políticos.
Calama (1990) antes da queda do "barranco."
A foto mostra a extensão da área atingida pelas águas do Madeira.
Foto do autor.



Foto da mesma área (2011). Permite ver parte da dimensão do estrago.
Foto do autor.

Vejamos mais fotos da passeata histórica.

Em frente ao Palácio Getúlio Vargas, sede do governo do estado








Em frente a Prefeitura Municipal de Porto Velho





                        É possível reconstruir o que já foi perdido? Calama não perdeu apenas a área da rua da "frente." Perdeu também as construções do período da borracha. Perdeu, portanto, parte da história.

Prof. José Maria Leite Botelho


ANIVERSÁRIO DE CALAMA. QUANDO?


A hierarquia urbana-administrativa no Brasil é composta pelas categorias de cidades, vilas e povoados. Na categoria urbana se inserem todas as cidades, vilas e povoados.  Na categoria administrativa estão à capital federal, as capitais dos estados, as capitais ou sede dos municípios e as vilas, sede dos distritos. Pela legislação brasileira tanto a sede do município quanto a sede do distrito adota a mesma denominação da área que representa.
A criação de uma unidade político-administrativa se dá pela importância estratégica que determinada população representa para o desenvolvimento daquela região.  A criação de um distrito, por exemplo, é uma decisão político-administrativa que não se dá ao acaso, ao contrário, é ato legal que representa uma espécie de “certidão de nascimento” no qual consta sua denominação oficial, sua área e seus limites. Representa, por conseguinte, uma regionalização geográfica constituída por sua sede (a Vila) e por uma área rural constituída pelos povoados que a compõe.

O Distrito de Calama.
O mapa abaixo representa o município de Porto Velho com sua divisão distrital. A área em vermelho corresponde a áreda do distrito de Calama, do qual falaremos a seguir.
Mapa do Município de Porto Velho. Destaque para o Distrito de Calama.
Fonte: Paulo Reis Lima
Em relação ao distrito de Calama é conveniente observar dois fatos da maior importância. O primeiro se refere ao surgimento do povoado. Como o povoado de Calama não foi criado por nenhuma lei ou ato administrativo, a literatura utiliza a palavra surgimento.
Não se sabe a data do surgimento do povoado de Calama. A história regional registra a segunda metade do século IX, entre 1800 e 1900. Registra também que no ano de 1877 Calama passou a ser sede da Empresa Calama S/A, de propriedade do espanhol Manoel Antônio Parada Carbacho.

Uma rua em Vila Calama
Foto do autor.
 Como distrito, Calama tem duas datas de nascimento. Uma de 1938 e outra de 1945. A Lei Estadual 176, do dia 1.º de dezembro de 1938, (do estado do Amazonas) criou o Distrito de Calama, no município de Nossa Senhora da Conceição do Behém de Humaitá, atual município de Humaitá. Pela Lei Federal 6.550, de 31 de maio de 1939, Calama passa para o domínio do município de Porto Velho. Pelo Decreto-Lei Federal nº 7.470, de 17 de abril de 1945 Calama foi elevado à categoria de Distrito do Município de Porto Velho. Dessa forma é bom lembrar que:
1.º – O Distrito de Calama foi criado em 1.º de dezembro de 1938, como distrito do município de Humaitá;
2.º – Em 17 de abril de 1945 o Distrito de Calama foi elevado à categoria de distrito do município de Porto Velho.
Pergunta-se: qual data será considerada oficialmente para o aniversário do distrito de Calama? Primeiro de dezembro ou dezessete de abril?
 Com a palavra o bom senso!

Prof. José Maria Leite Botelho


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Caprichos do rio Madeira II – o caso Calama

Vila Calama, localizada a margem direita do rio Madeira, continua perdendo a rua frontal, ou a rua da frente, como é conhecida. Nessa rua havia construções do período de riqueza advindo da exploração da seringa. Os casarões, as casas menores que testemunhavam a história da Vila foram uma a uma sendo demolidas.  Mentes “desavisadas” exterminaram materialmente testemunhos históricos construídos entre o último quartel do século XIX e a primeira década do século XX. Seria possível recuperar o patrimônio perdido? Penso que não se recupera algo que foi destruído, apenas se reconstroem réplicas, mesmo que em tamanho natural. Não existem mais casarões e a rua da frente está sendo engolida pelo rio Madeira.
O avanço do rio Madeira sobre Calama é um processo natural que se iniciou há pelo menos 40 anos, como descrito em Caprichos do rio Madeira, neste mesmo blog. Parece que a solução para o problema está em como conter ou pelo menos desviar a força do maior afluente do rio Amazonas acima do trecho afetado. E, o trecho afetado é a própria Vila Calama. A solução é trabalhar a montante e não apenas tentar aterrar a parte caída da rua da frente da Vila. Esta deverá ser a continuação do trabalho de recuperação.
Dois agravantes se interpõem para o início dos trabalhos de recuperação da parte que foi tomada pelas águas do Madeira. O primeiro é a forma do meandro entre a ilha de Assunção e o meandro do lado do Caraparu e a ilha que cresceu na margem oposta do rio em frente à vila. São os meandros citados que potencializam a força das águas. A ilha em frente da Vila antepara a força da água empurrando-a para o lado de Calama. O segundo agravante parece ser a embocadura do rio Machado (Ji Paraná). Quando as águas do Machado se unem com as do Madeira duplica a força da corrente. É possível que com o crescimento da ilha que está se formando logo abaixo (lado direito) da foz do Ji Paraná comece a se transformar num anteparo natural. Entretanto....
Estamos vivendo num mundo onde, pelo emprego de tecnologias é possível desviar, “barrar” importantes cursos d’água, a exemplo das hidroelétricas construídas a montante do mesmo rio Madeira.  Portanto, essa é uma tarefa político-econômica a ser encapada pelo governo do Estado de Rondônia. É uma tarefa para sofisticada engenharia e não apenas para engenheiros.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

                                                  Fonte: Foto existente no Blog do João Calama

Assim começou Vila Calama.

O povoado de Calama desde sua formação na segunda metade do século IX, entre 1800 e 1900, sempre representou um ponto de orientação para aqueles que passaram ou por lá aportaram. Na época áurea da borracha era o porto seguro dos migrantes rumo aos seringais. Para aqueles que vinham dos seringais era o porto de embarque para Manaus e Belém. Para aqueles que a escolheram como lugar de residência encontraram a calmaria e o calor humano, de seu povo.
A necessidade de um porto obriga seringalistas e seringueiros a fixarem moradia, às vezes provisórias, à margem direita do rio Madeira, local inicial do povoado, hoje atual Vila Calama, sede do distrito homônimo. De acordo com a professora e historiadora Yêda BORZACOV (2008), “o povoado de Calama foi fundado por caucheiros e seringueiros bolivianos.”  
Com a crescente atividade do porto, Calama, passa a ser entreposto comercial, como ponto de atração e dispersão para os seringueiros oriundos dos mais diversos pontos das regiões Norte e Nordeste do país. Para o professor e historiador Abnael Machado de Lima, o povoado de Calama passou em 1877 a ser sede da empresa Calama S/A de propriedade do espanhol Manoel Antônio Parada Carbacho. Talvez a existência e a função de entreposto, fosse a única certeza para os que ali aportavam, pois, para Silva Amizael Gomes da Silva (1999),
Em Calama eram desembarcada as levas de “brabos” e ali eles começavam a se defender dos sortidos e inesperados ataques dos ferozes parintintin. Daí em diante era iniciada a penosa marcha rumo ao sul, vencendo as cachoeiras que a partir de Dois de Novembro, obstaculizavam a subida do rio...
A riqueza dos seringais permitiu a construção, em Calama, de belos casarões que serviram de moradia ora para os seringalistas, ora para seus “gerentes.” Os casarões testemunharam a existência de tamanha riqueza que por lá circularam. Entre os mais estavam o Chalé, foto abaixo:


                                                                     O "Chalé"
Foto do autor: Ano de 1990
Casarão conhecido como “chalé” construído na época dos seringais, pertenceu ao seringalista Isaías de Miranda, vendido posteriormente para a Congregação Batista. Foi demolido e no local foi construída a sede da Igreja Batista. Com a demolição do “chalé” Calama perde mais um testemunho de sua história.

E a casa paroquial, foto abaixo:

           

Foto do autor: Ano de 2011.



Mas, onde estão os casarões das fotos? Poderiam perguntar aqueles que se interessam pela história dos seringais, pelas histórias de vidas, enfim, onde estão os decantados casarões?  Psiu! Caluda!

ELES FORAM DEMOLIDOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! POR QUEM ACHA QUE HISTÓRIA TEM LUGAR E TEMPO PARA ACONTECER E PARA EXISTIR.

E AGORA? QUEM RESPONDERÁ PELO DESMONTE DOS TESTEMUNHOS HISTÓRICOS DE CALAMA?

Prof. José Maria Leite Botelho.

O Casarão conhecido como “casa paroquial” é uma construção em estilo colonial, modelo português construído na época dos seringais.

domingo, 29 de abril de 2012

Memórias de um Igarapé¹
                                                                                                                       Prof. José Maria Leite Botelho
            Não me recordo muito bem o dia em que nasci. Só sei que já faz muito tempo. Naquele dia, eu já havia saturado o lençol freático do qual nasci. Comecei a escorregar lisinho, bem de mansinho, escorreguei, deslizei cada vez mais forte. Vieram as chuvas torrenciais e ajudaram-me a escavar o meu leito, serpenteando por entre a floresta. É bem verdade que aproveitei o vale já existente. Mas o trabalho árduo fez com que pudesse derramar minhas águas dentro de um grande rio, o Rio Madeira. Rio enorme, caudaloso, que vem lá dos Andes. Os Andes são aquelas montanhas de até sete mil metros de altitude e que ficam na parte oeste da América do Sul. Bem, quando caí dentro do rio senti calafrios, pois minhas águas eram tão pequenas e límpidas, misturadas às águas barrentas, de cor amarelada daquele tão importante rio. Na caminhada até o rio, deslizei por entre árvores das mais variadas espécies: seringueiras, piranheiras, faveiras, capitari, sipiá, mari-mari e tantas outras. Permaneci escondido entre a floresta, nem sei por quanto tempo. Mas, apesar de escondido, eu era feliz ali, a deslizar nos troncos das árvores.

Foto: Igarapé de Calama época da cheia. Local: Porto da Pensão - 2011
                                   Fonte: José Maria Leite Botelho – 2011
Passaram-se muito tempo e começaram a aparecer umas pessoas meio esquisitas. Esquisitas nem sei por que, pois eu não conhecia até então, ninguém daquele tipo, usavam arcos e flechas, andavam nuas, bem eu só soube que andavam nus, tempos depois. Só sei que aquelas pessoas gostaram muito das minhas águas. Isso eu deduzi pelo jeito com que eles se banhavam em meu leito, a deslizar em minha fria e cristalina água. Modéstia à parte, minhas águas são de fazer inveja. Os novos conhecidos tornaram-se meus amigos, mesmo porque o meu nascimento encurtou-lhes o caminho para o Rio Madeira. Depois de muito tempo vieram outras pessoas. Essas não andavam nuas e nem usavam arcos e flechas. Usavam armas que faziam barulho quando eram disparadas. Parece que o encontro entre os meus visitantes não foi muito amistoso. Foi uma verdadeira guerra de arcos e flechas contra as armas barulhentas. Os que andavam nus queriam “por direito” se apossar de mim, enquanto que os que andavam vestidos queriam a minha posse pelos mesmos motivos. Depois de décadas de luta os primitivos visitantes foram vencidos. Pobre de mim, os vencedores puseram-se a abrir feridas em minhas margens, ora cortando as matas, ora escavando o meu leito. A princípio, o calorzinho do sol era gostoso, mas depois o calor foi aumentando, mas não chegava a preocupar. Passaram-se algum tempo, anos, muitos anos, cinqüenta, setenta, cem anos, sei lá quantos! Só sei que nos últimos dez anos, estou bastante preocupado com o meu destino. As matas de minhas margens foram sendo devoradas pelas pessoas de armas barulhentas e agora quando chove, tomo um banho de águas sujas, em algumas partes estou quase desaparecendo.

Fonte: José Maria Leite Botelho – 1990
Antigo porto da “Pensão” – na época de estiagem. O porto da “Pensão” era assim chamado por ser o local de banho dos hóspedes da antiga pensão (hotel) denominado de “enforcado.”

            Apesar de ser um pequeno igarapé, de mais ou menos uns dois quilômetros de extensão, tenho grande serventia para a população que se banha e utiliza minhas águas cristalinas. Mas como estava contando ainda a pouco, estou preocupadíssimo não só com o meu destino. Estou preocupado também com as pessoas. Elas não percebem que estão destruindo minha beleza e minha serventia. Vocês já pensaram o que fizeram às árvores que me emprestavam a sombra e serviam de pousada aos pássaros que gorjeavam para eu ouvir? Cortaram-nas todas. E deixaram-me exposto aos raios solares. As águas pluviais arrastam-se para dentro do meu leito e com elas, uma grande quantidade de terra. É como se a terra arrastada quisesse tapar-me as veias, estreitando-me a passagem.
            Infelizmente, as pessoas estão provocando uma disputa pelo espaço entre minhas águas e a terra arrastada pelas chuvas. Talvez não haja vencedor; ao contrário, o próprio homem transformar-se-á em perdedor. É uma pena!
            Agora, há pouco tempo, tenho presenciado animais esquisitos rondando minhas cabeceiras. Os humanos dizem que aqueles animais são muito importantes. Só não percebem, ou se esquecem que os animais estão jogando todos os dias os restos não aproveitáveis pelo seu organismo, perto de minhas margens. Pobre de mim, quando vierem as chuvas torrenciais, pois vou ter que receber toda aquela sujeira. Minhas cristalinas águas continuarão assim, limpinhas? De onde as pessoas irão buscar água para beber? Beberão água poluída? Ou irão abastecer-se das águas contaminadas do Madeira? Coitado do rio Madeira! Está cheio de mercúrio, aquele mineral usado na queima para separar o ouro, coitado! O Rio Madeira está alarmado e grita por socorro.
            Mas ainda há tempo para consertar o erro, tempo para amenizar todo o desgosto causado à mãe natureza e pelo qual tenho passado. Eu continuo a perdoar. E sabem de que maneira? Jorrando minha água pura e cristalina das entranhas da Terra, lá daquele lençol freático que eu mesmo saturei, rompi. Lembra?
            Pois bem, vocês que se banharam e se deleitaram em minhas frias e cristalinas águas; vocês que tiveram o prazer de banhar vossos amados filhos em meu precioso líquido, não me deixem desaparecer. Permitam que a vegetação cresça novamente em minhas margens, um pouquinho só. Uns cinqüenta metros de cada lado. Bem que poderia ser cem metros. Mas, cinqüenta metros, já servem. Dessa forma, não morrerei vitimado pelo assoreamento. O que é assoreamento? Assoreamento é a ação causada pelos sedimentos sobre um leito de qualquer rio, igarapé, lago, isto é, assoreamento é a morte de um manancial pelo aterramento. Deixe crescer, a floresta, o mato ao meu redor, a mata ciliar, como andam chamado, por aí. Elas (as matas) reterão as impurezas derramadas à minha montante e me protegerão. Em troca, darei a todos, sombra e água fresca, bem fresquinha e cristalina.

¹Texto escrito em 1995.

sábado, 28 de abril de 2012

CALAMA: sua história, sua geografia e os seus etc........................
                                                                      Prof. José Maria Leite Botelho
O barracão de aviação (comércio) da borracha, gêneros alimentícios e outros gêneros.
Foto: Barracão de Aviação. Comércio da época da borracha – 2011.
Fonte: José Maria Leite Botelho
Observe-se que a porta frontal está fora do padrão da construção original. Não, não era assim. A porta original é a que está do lado esquerdo da fotografia. Alguém “desavisado” permitiu que alguém com interesses individuais descaracterizasse a fachada do prédio.  


                “Um outro” dia estava lembrando quando (no meu tempo de criança) ia fazer compras (naquela época, ninguém ia comprar, todos iam se aviar) no Barracão. Barracão lembra seringal  e, Calama apesar de não ser um seringal, nos moldes do termo, funcionava como tal, pelo menos no modelo. Pois bem, no tempo do seu Amélio, do seu Chiquito Marinho, do seu Nelson Carneiro, o Barracão era cheio de castanha (parecia uma colina), feijão, arroz, tabores (recipiente de aço ou ferro com capacidade para 240 litros) cheio de copaíba, blocos de sorva, tecido, açúcar, café em grão, pilhas de lata de querosene, arrobas de tabaco, em fim, era o único local de venda em Calama. Do lado de fora, lotes de pélas de borracha vindas do alto Machado, à espera do transporte para Manaus.
                A borracha perdeu seu valor e com ela o Barracão deixou de ser o único ponto de comércio de Vila Calama. Porém não deixou de ser importante. Já funcionou como casa de festas, moradia para ribeirinhos desabrigados pelas águas do Madeira, e, por mais de duas décadas como a casa de força, como sede de uma associação.
   
O BARRACÃO, Ainda resiste ao tempo e ao homem. Mas será a próxima vítima. Quem será o seu algoz? O tempo? Ou o homem, que ignora a história local?

Pois bem. Esta é a única construção histórica que ainda testemunha o período da riqueza colossal proporcionada pela extração da borracha. Todas as outras já foram demolidas.
Se olharmos do lado direito da primeira foto veremos parte de uma casa. Antes no mesmo local existia um casarão. Esse casarão construído em madeira labiada e coberto com telhas de barro era dividido em três residências. Toda a parte frontal tinha varanda.  Igual a casa descrita já foram demolidas também a casa de telegrafia, o enforcado, o chalé, a casa paroquial.
O Barracão, ainda resiste ao tempo e ao homem. Mas será a próxima vítima. Quem será o seu algoz? O tempo?  Ou o homem?

É preciso resistir. Ou vamos deixar que a máquina aplaine o único “morro testemunho” da história calamense?

Prof. José Maria Leite Botelho

 


Foto: Barracão de Aviação – 2011              Fonte: José Maria Leite Botelho

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Caprichos do rio Madeira: o caso Calama

Capricho do rio Madeira: o caso Calama
               Prof. José Maria Leite Botelho

O rio Madeira é um rio ainda em formação. Está em constante formação e dessa forma, seu talvegue tem constantemente mudado seu curso e no seu percurso, destroi e reconstrói suas barrancas. Os ribeirinhos já sabem disso há séculos, por isso não brigam com o rio, apenas respeitam sua força. Assim nunca constroem suas casas muito próximas das margens. Vivem assim em perfeita harmonia.
 O que vou relatar é fruto da vivência e da observação (não como pesquisador e sim como um amazonense que viveu parte de sua vida subindo e descendo o Madeira), que tenho feito durante décadas. Para efeito desse relato vou fazer um recorte a partir da localidade de Conceição do Galera até o povoado de Tambaqui, em frente a antiga ilha do Pasto Grande. Nesse trecho o caprichoso rio Madeira derrubou ilhas e barrancos, aterrou praias fazendo surgir pitoresca vegetação; abriu e fechou paranás; destruiu lagos e fez aparecer outros.
            A jusante do povoado de Conceição do Galera o rio corre retilineo até encontrar a ilha de Assunção. Esta já teve parte de suas barrancas derrubadas e o solo depositado no paraná fechando-lhe ou assoreando-lhe a saida. O desvio feito desde a parte da ponta (parte da subida do rio) da ilha fez crescer uma nova ilha na mesma de Assunção. Lembro que no dia 07 de dezembro de 1978, desembarquei a 60 metros da casa do meu sogro. Dez anos passados os moradores que vivam na mesma área foram obrigados a transferir suas moradias para a terra que cresceu na frente das casas. Do antigo local, na ilha de Assunção,  onde moraram, entre outras, as famílias de Roberto Ferreira de Paula, Maria Gomes, só restam as lembranças. A vegetação que cresceu no local esconde qualquer vestígio das moradias.   
            A força das águas na época das cheias avançou sobre a sede do seringal Assunção (na margem esquerda), destruindo-o. Como o canal havia mudado de lugar o material em suspensão foi se depositando sobre a praia de São Vicente, lado direito do rio, na “ponta” de baixo, da ilha. Como a terra nessa área cresceu o rio transferiu seu canal para o lado esquerdo. Aí derrubou barracas e árvores e os moradores do povado do Caraparu foram obrigados a migrar. Uns foram para Calama, outros para Porto Velho.
            As terras carreadas de parte da ilha de Assunção e adjacencias se depositaram e fizeram crescer a ilhinha, que estava se formando em frente Calama. Atualmente, não se percebe mais essa ilha.
            A água avança então sobre as terras da foz do Ji Paraná. No ano de 1982, mais ou menos, as águas do Madeira faz desaparecer a praia do “folharal.” Essa praia ficava localizada na margem esquerda do rio Madeira logo abaixo da foz do Ji Paraná e emendava-se com as terras do lago Curumim. O nome “folharal” era devido ao seu aspecto, formado  em camadas: uma camada de areia e uma camada de folhas, resultado do transporte das folhas e dos sedimentos do rio Ji Paraná). Quando a praia do “folharal,” foi retirada pela força das águas barretas do Madeira, a mesma força avançou sobre uma ilha que ficava acima de Vila Calama, mais ou menos do São Francisco para cima, destruindo-a em uma só noite. Retirada a ilha, o rio está avançando sobre a vila Calama. O resultado desse avanço pode ser observado comparando-se as fotos seguintes.
               

                                                        Fonte: José Maria Leite Botelho
Nessa primeira foto observa-se a casa da esquina, a casa Paroquial (ainda em bom aspecto), a Igreja de São João Batista. Essas construções tem a frente vasto terreno. A foto foi tirada no mês de nobrembro do ano 1990 e naquele ano a seca foi prolongada, por isso a grama apresenta aspecto avermelhado.
                                                      

Fonte: José Maria Leite Botelho
Na segunda foto observam-se as mesmas construções mas, a casa da esquina foi modificada e a casa Paroquial e a Igreja de São João Batista apresentas aspectos de total abandono. Essas construções não tem mais aquele vasto terreno. A foto foi tirada no mês de abril do ano 2011 a grama apresenta-se muito verde.

Em visita a Vila Calama em abril deste ano de 2012 observou-se que a água avançou e derrubou a calça da casa.

Prof. José  Maria Leite Botelho